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domingo, 27 de outubro de 2013

CORONÉIS JACOBINENSES DE ONTEM, MÉDICOS POLÍTICOS DE HOJE.



Frei Petrônio de Miranda, Frade Carmelita.
E-mail: missaodomgabriel@bol.com.br


Meu caro leitor do Jornal Tribuna Regional, o filósofo grego Platão (século IV a.C.) afirmava que a política era uma das mais nobres atividades humanas e que o "principal problema daqueles que não se interessam por políticas é que serão governados por aqueles que se interessam". E quando não se dá a devida importância à política, corremos o risco de sermos mal governados pelos interessados que chegam ao poder. No seu diálogo, O Político, ele expõe uma síntese da sua visão política, que, bem mais tarde, aparecerá detalhadamente nos seus dois outros diálogos, considerados clássicos: A República (Politéia) e As Leis (Nomos).
Em conversa com um ex-Prefeito de Jacobina e que também exerce a profissão de médico, perguntei-lhe sobre a “tradição” dos médicos prefeitos em nossa cidade. Com bastante sinceridade e com a experiência também de médico, ele confessou-me: “Frei, os médicos políticos de hoje são os coronéis de ontem”. Após algumas reflexões sobre esta conversa, fui motivado a refletir, com você, sobre esta polêmica afirmação. Leia, reflita e assuma o seu protagonismo de construtor de uma comunidade mais ética, humana e solidária.
- Coronéis de ontem: “Seu coroné, pelo amor de Deus, me dê uma ajuda, minha filha tá doênte, a seca acabou com tudo, tô passando fome, não sei o que fazer, meu coroné. Ficarei a dispor de vomissê para servir no que precisar, mas socorre a minha família”.
- Médicos políticos de hoje: “Seu doutor, só o senhor pode ajudar a minha família. Eu tenho 15 filhos, a minha muié passou mal onte, meu filho mais veio tem 5 filho e dois tão doentes. Há seu doutor, não é porque o sinhor é candidato, mas no que precisar, tamo aí”.
            Meu caro leitor, estas histórias fictícias, mais do que verdadeiras nos dias de ontem e em nosso dia-a-dia, é para relatar uma verdade que todos sabem, mas nem todos têm a coragem de afirmar: “Coronéis Jacobinenes de ontem, Médicos Políticos de Hoje”, é uma verdade igual a 2x2 =4.  Vá até ao Centro Cultural da nossa cidade, suba as escadarias em direção ao auditório e olhe a história da nossa cidade através das fotos dos nossos prefeitos. Veja quantos coronéis foram prefeitos nos dias de ontem e faça uma comparação em relação aos médicos prefeitos de hoje. É incrível como a história vai nos relatar esta verdade absoluta! Se ontem os pobres da seca, da fome e da dor tinham nos coronéis a “sua proteção”, olhe para os dias de hoje e você ficará em dúvida se parou no tempo ou se os políticos- coronéis ressuscitaram na vida de muitos médicos jacobinenses.
Para os pobres de ontem, quando o coronel fazia “um favor”, que, aliás, nada mais era do que uma obrigação e um dever evangélico do ser humano estender a mão para o pobre, para o órfão e para a viúva  (Tiago 1, 27), na sua concepção, toda a família ficava devendo este eterno favor. E como era pago este favor? Muito simples, através do voto. Nos dias de hoje, quando um médico, mesmo que seja pago, atende uma família na hora da dor ou da morte, que, aliás, emocionalmente e psicologicamente é a hora mais apropriada para o “médico coronel”, esta família e também a sua segunda geração ficarão gratas através do voto por várias eleições. Conheço uma família que votou em um determinado médico político por três eleições, simplesmente porque o tal médico estava presente na hora da morte do pai daqueles filhos. E olha que foi tudo pago! Por que será que o sistema de saúde da nossa cidade sempre está nas mãos de políticos? Por que será que mesmo falido o Hospital Antônio Teixeira Sobrinho (incluindo a Clínica de Hemodiálise) continua sendo disputado por grupos políticos? Por amor a Jacobina? Por amor aos pobres doentes renais?               
Termino o meu artigo com o pensamento de Platão: “o estado deve ser governado não pelos mais ricos, os mais ambiciosos ou os mais astutos, mas pelos mais sábios”. Ele ainda acrescenta que “o fundamental problema da política é que todos os homens acreditam-se capacitados para exercê-la, o que lhe parece um grave equívoco, pois ela resulta de uma arte muito especial”. Ou seja, não é porque eu tenho bens, sou da família Y ou X que tenho capacidade para ser político.
Com estas afirmações do mestre e filósofo grego, podemos ainda afirmar que muitos gostam de pescar, mas a arte de viver e sobreviver da pesca são próprios de quem aprendeu na sua humildade, na escola do dia-a-dia da pesca. Ou seja, como eu posso fazer a política do bem comum se eu jamais estive envolvido em questões sociais ao lado daqueles e daquelas que gritam por justiça social ou clamam por vida e dignidade? O momento sem dúvida alguma, é de reflexão e de separação do joio e do trigo (Mt 13, 30) enquanto é tempo.
Não é mudando de gestor Y para X que se resolvem os nossos problemas, mas na participação popular das ONGs, Igrejas, Movimentos Sociais, Sindicatos e Associações Comunitárias. Na escolha de candidatos comprometidos com as causas sociais que subam a serra não apenas em ano de eleições. Que abra o vidro do carro não apenas para pedir votos, mas para ver e ouvir o grito dos pobres sofrendo com as muriçocas, com a falta de água e com a violência que nos assusta. Tudo isso não é um sonho, é uma conquista a partir do momento em que abrirmos os olhos sem medo de ser feliz.
(Artigo sobre a política da cidade de Jacobina-BA)
http://mais.uol.com.br/view/77gsd7cnudte/coroneis-jacobinenses-de-ontem-medicos-politicos-de-hoje-0402993968D0891327?types=T&